Iniciamos na segunda semana de julho/2020 a Série AARS Depoimentos: Arquivos na pandemia. Hoje publicamos o trigésimo segundo depoimento.
A associada Elisângela Gorete Fantinel relata o impacto da pandemia da Covid-19 no seu trabalho arquivístico.
Os depoimentos são publicados às quintas-feiras no site da AARS.
Elisângela Gorete Fantinel
Arquivista FURG
Rio Grande, RS.
Associada n. 027 da AARS
1. Apresentação
Meu nome é Elisângela Gorete Fantinel, sou arquivista da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. No momento atuo como técnica do Curso de Arquivologia, vinculado ao Instituto de Ciências Humanas e da Informação – ICHI.2. Quais atividades desenvolvia antes da pandemia?
Antes da pandemia da COVID-19 o meu trabalho consistia no contato direto com docentes e estudantes, contribuindo no desenvolvimento das atividades acadêmicas, especialmente em ações de ensino e extensão. As atividades desenvolvidas na modalidade presencial buscavam promover e colaborar com ações de formação profissional, por meio da atuação nos laboratórios e em sala de aula.
O trabalho era realizado em conjunto com os docentes que ministravam as disciplinas que requeriam a realização de atividades de cunho metodológico-prático, como por exemplo, a experimentação de técnicas de conservação preventiva, de digitalização de documentos, de uso de software de descrição e acesso, de classificação e avaliação de documentos e também a participação e desempenho de atividades didáticas junto às disciplinas de Prática Arquivistas I (realização de diagnóstico) e II (construção de plano de classificação).
Paralelo a estas atividades, desenvolvia projetos de ensino e extensão. Além disso, planejava, desenvolvia conteúdos e ministrava oficinas, algumas das quais em parceria com docentes e estudantes, para que estas fossem ofertadas aos alunos no contexto de eventos promovidos pela Universidade, como forma de divulgar a Arquivologia.
Também atuava como membro do Conselho do ICHI, fazendo parte da Câmara de Ensino.3. A pandemia mudou a sua rotina de trabalho? Se sim, conte-nos o que mudou.
Com a chegada da pandemia da COVID-19, no mês de março de 2020, as atividades acadêmicas e administrativas presenciais foram suspensas na FURG, assim como em outras instituições de ensino no mundo todo.
Naquele momento pensava que logo tudo iria acabar, e que estaríamos juntos circulando pelos espaços da Universidade. Entretanto, a realidade, após mais de um ano de pandemia, é esta que aí está. Ainda estamos vivenciando, em maio de 2021, uma realidade colapsada.
O desafio para atender de forma satisfatória as demandas de trabalho e do ensino remoto foi, e, porque não dizer, continua sendo grande. Trabalhar, estudar, produzir, e ficar saudável à luz de incertezas nos tornou mais frágeis, especialmente diante de um contexto sócio-político-econômico que tem apontado o aumento do desemprego, da pobreza, somado a ausência de respeito e de responsabilidade para com vida e, em meio a todos esse caos, precisávamos dar conta das novas rotinas e da dinâmica de trabalho.
Foi preciso se adaptar às novas formas de ensinar, aprender, construir e compartilhar conhecimento, não obstante da consciência daquilo tem sido vivido pela sociedade.
Deste modo, para retomar a conexão com os acadêmicos, o Curso de Arquivologia precisou ampliar os seus canais de comunicação criando, em maio de 2020, uma conta no Instagram, no Facebook e no YouTube. Tal iniciativa possibilitou ofertar uma série de eventos online, via plataforma do StreamYard, nos meses de junho a novembro de 2020, com a participação de pesquisadores da área, por meio dos projetos “4ª Semana Nacional de Arquivos” e “Diálogos: arquivologia em múltiplas perspectivas”. Tais eventos contaram com um número expressivo de participantes, dentre eles, alunos, egressos, profissionais do Brasil e do exterior. Nestas atividades, totalmente novas, atuava como desenvolvedora dos materiais de publicação no Canva, mediadora e também dando suporte no backstage nos dias dos eventos.
Paralelo a isso, participei de grupos de pesquisa e de estudos, com interação direta de professores e estudantes do Curso.
Quando da retomada das atividades acadêmicas, em setembro de 2020, a FURG, para garantir que o processo de ensino-aprendizagem pudesse dar conta neste contexto pandêmico e de distanciamento social, preparou um conjunto de ações de formação e acolhida de docentes e estudantes, além de desenvolver um novo sistema de aprendizagem, chamado de Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA – FURG).
Desde o início do trabalho remoto houve muitas mudanças. A minha casa se tornou uma parte da Universidade, aquilo que era improvisado e temporário, passou a ocupar um lugar de destaque, foi preciso criar rotinas, estratégias, buscar novos conhecimentos, desenvolver novas competências e seguir em frente.
Com a retomada do semestre letivo fui responsável por desenvolver uma campanha de “Boas-vindas” aos estudantes. Também acompanho as aulas das disciplinas de Prática Arquivística I e II e Estágio Supervisionado I e II. As oficinas cederam lugar ao desenvolvimento de conteúdos que são apresentados em forma de palestras.
Dentre as atividades também coordeno um projeto de pesquisa intitulado “Estudantes do Curso de Arquivologia da FURG: expectativa e a realidade do ensino on-line”.
As reuniões do Conselho do ICHI e do Comitê Assessor do Curso, continuam acontecendo normalmente, só que agora no formato online.4. Depois que a pandemia passar, como será a volta ao trabalho? Que rotinas pretende retomar e quais manterá?
Acredito que ainda temos um importante caminho a percorrer para garantir maior eficácia no processo de ensinar e aprender no formato online, considerando, especificamente, as disciplinas de cunho prático, como, por exemplo, estágios supervisionados, além de oficinas e projetos que demandam a realização de vivências práticas. Ademais, existem outras questões importantes que não entrarei na discussão, mas que considero ser insubstituível em um ambiente universitário que é, sobretudo, de ser um espaço de promoção de debates e de compartilhamentos de saberes, de culturas, e de experiências.
De outro lado, a pandemia nos trouxe muitos aprendizados dentre eles, a capacidade de nos adaptar, de nos reinventar diante das adversidades. Deste modo, acredito que o uso de recursos adotados pelo Curso de Arquivologia, como a expansão dos canais de comunicação, fortalecimento das redes sociais, atividades síncronas com profissionais da área, reuniões, eventos acadêmicos, produção de conteúdos e materiais didáticos, podcast, vídeos e, etc. são ferramentas e estratégias didático-pedagógicas que vieram para agregar às práticas utilizadas pelas universidades, com o objetivo de socializar o saber a qualquer tempo, lugar e espaço.
Nesse momento, em que faço essa escrita reflexiva, confesso que a saudades das atividades presenciais, que permitiam que os relacionamentos interpessoais fossem mais próximos, é cada vez mais patente, mas, não posso deixar de registrar o meu agradecimento a equipe do Curso de Arquivologia da FURG pela parceria colaborativa, neste momento de trabalho remoto. Que possamos lembrar sempre de que juntos e unidos, somos muito mais fortes!Agradeço a AARS, pela oportunidade deste registro, no desejo de que em breve possamos estar juntos para falar, olho no olho, de Arquivologia.