Iniciamos na segunda semana de julho/2020 a Série AARS Depoimentos: Arquivos na pandemia. Hoje publicamos o trigésimo depoimento.
O associado Rafael Chaves Ferreira relata o impacto da pandemia da Covid-19 no seu trabalho arquivístico.
Os depoimentos são publicados às quintas-feiras no site da AARS.
Rafael Chaves Ferreira
Professor UFSM
Santa Maria, RS.
Associado n. 345 da AARS
Olá! Meu nome é Rafael Chaves Ferreira, tenho 31 anos de idade, sou arquivista de formação, possuo Especialização em Gestão em Arquivos e Mestrado em Patrimônio Cultural. Desde o ano de 2018, atuo profissionalmente como professor, estando lotado no Departamento de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), dedicando-me ao ensino no curso de Arquivologia desta mesma instituição, na qual também desenvolvo projetos de pesquisa, realizo orientações de iniciação científica e ações de extensão, especialmente no âmbito local.
Até meados de março de 2020, tudo que eu desenvolvia inerente à minha profissão, ou a maioria das atividades que realizava, dava-se de forma muito presencial, em contato direto com outras pessoas, de forma tão banal e corriqueira que talvez, se soubesse o que estaria por vir, eu teria experienciado um pouco mais: os cafés compartilhados de início de semestres letivos, os momentos com as turmas em sala de aula, os encontros e diálogos rápidos nos intervalos pelos corredores, as visitas às instituições com os estudantes, os encontros com orientandos de Trabalho de Conclusão de Curso e Estágio Supervisionado em Arquivologia, as reuniões departamentais com colegas e amigos docentes, entre outras.
Nunca imaginei que logo no início de minha carreira docente esse cenário rapidamente sofreria mudanças e muitas atividades necessitariam de adaptações para continuarem a ser realizadas, tudo em decorrência de uma pandemia de Covid-19 que causa efeitos no mundo todo até hoje: restrições de mobilidade urbana e serviços, ‘novos’ hábitos de higiene e potencialização de outros, distanciamento social, trabalho de forma remota, novas formas de relações interpessoais, atualização tecnológica, etc.
No ano de 2020, e que continua implementado neste ano de 2021, a UFSM aderiu ao Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE), já que se vive na universidade, assim como em tantas outras instituições, um período de suspensão das atividades presenciais, algo que afetou não apenas as atividades laborais, mas também familiares e diárias de todos os envolvidos: docentes, discentes, técnico-administrativos em educação, comunidade externa. Com exceção das atividades consideradas como essenciais, as demais passaram a ocorrer de modo virtual, possibilitando que o REDE trouxesse para os envolvidos neste processo vários significados, sendo alguns que percebi e destaco: diagnóstico de deficiências tecnológicas, bem como urgente atualização; adaptações de práticas pedagógicas; autonomia estudantil cada vez mais requerida, bem como uma atenção redobrada do professor; falta ou limitação de acesso à Internet e aos equipamentos necessários; aumento da carga de trabalho; aumento das incertezas profissionais.
Como docente, percebo que a vida diária nesta profissão ficou mais desafiadora, e não apenas pelo que destaquei anteriormente, mas devido a forma repentina que tudo ocorreu, faltando planejamento nos momentos iniciais ou, como vivenciei, muito foi sendo realizado na medida em que se praticava, acertava e errava, no tocante ao estar e fazer docente: aulas virtuais síncronas e vídeo aulas disponibilizadas em plataformas virtuais viraram rotina; orientações via aplicativo de mensagens instantâneas e troca de e-mails foram intensificadas; a flexibilização de atividades avaliativas das disciplinas e prazos de entrega foram necessários; familiarizar-se com questões pessoais sensíveis de estudantes e colegas de trabalho foi inevitável; ponderar e valorizar ainda mais o lado humano no processo de ensino-aprendizagem tornou-se vital.
A carreira docente tem sido emocionante de diversas formas e é isto que considero como um grande motivador para eu continuar. Devido as circunstâncias em que estamos vivendo, acredito que quando retornarmos ao modo presencial, no nosso dia a dia, algumas questões terão que ter uma atenção especial: o ensino híbrido será cada vez mais requerido e necessário; as adaptações tecnológicas e consequente melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem decorrentes das mesmas serão continuadas; a valorização das relações interpessoais ocorrerá ainda mais.
Confesso que sinto falta daquele contato mais próximo aos estudantes e colegas de trabalho, daqueles momentos genuínos de felicidade e até mesmo frustração que ocorrem somente de forma presencial, de estar caminhando pela UFSM e contemplando-a muitas vezes, e acredito que experiências como estas passaram a ter outro significado tanto na minha vida, como na vida de outras pessoas. Creio ser importante entendermos que é preciso levar o que for de melhor e mais positivo em termos de aprendizado que tivermos durante este momento pandêmico, tanto para o bem individual, mas especialmente para o bem comum, seja no âmbito das relações de trabalho, familiares ou sociais. Afinal, se tem algo que está claro, cujo véu da ignorância caiu, é que como humanos somos seres sociais e precisamos um do outro.