A Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul (AARS), vem demonstrar publicamente seu repúdio ao comentário veiculado no Jornal do Almoço, da RBSTV, afiliada da Rede Globo de Televisão no Rio Grande do Sul, desta quarta-feira (13/11), pelo jornalista Paulo Germano Moreira Boa Nova, quando de sua análise sobre o projeto de lei municipal de Porto Alegre que extingue a obrigatoriedade de cobradores nos ônibus da Capital.
Citando o “fim de profissões como de datilógrafos e arquivistas”, o jornalista ignora que a Arquivologia se debruça nas últimas décadas sobre temas tão caros a sociedade como transparência pública; acesso à informações; proteção de dados pessoais, entre tanto outros no campo dos documentos digitais.
No fazer da gestão documental, são os arquivistas que selecionam e avaliam a documentação custodiada por empresas privadas e em instituições públicas, percebendo seu real tempo de guarda e possibilidades de eliminação ou preservação permanente para fins de memória, de forma criteriosa e legal.
Vale ressaltar que são justamente os arquivistas que custodiam e dão acesso aos documentos históricos, fontes primárias de pesquisas e que são parte do patrimônio cultural desta mesma sociedade.
Comparar o fazer da Arquivologia e do arquivista ao de funções extintas pelos avanços tecnológicos, é desconhecer a real importância deste profissional. A formação no Estado do Rio Grande do Sul se dá desde os anos setenta por meio da UFSM, UFRGS e FURG, sendo o curso de graduação de quatro anos de formação acadêmica.
No website desta associação profissional (www.aargs.com.br) estão descritas as atividades que desenvolvemos nos últimos anos, assim como a campanha institucional, o código de ética profissional e nosso papel frente a defesa e luta pela classe.
A AARS, por fim, solidariza-se com os colegas que se sentiram desprestigiados pelo comentário do jornalista e reitera seu papel de unir a categoria e divulgar a profissão.
Porto Alegre, 14 de novembro de 2019.
EDIÇÃO: Ainda no dia 14 de novembro, o jornalista Paulo Germano, publicou a seguinte NOTA DE RETRATAÇÃO.
NOTA DE RETRATAÇÃO
Cometi um erro na edição do Jornal do Almoço de quarta-feira, 13 de novembro de 2019. Em uma das minhas participações como comentarista, ao mencionar algumas profissões ameaçadas pelo avanço tecnológico, acabei citando equivocadamente os arquivistas.
A Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul – AARS emitiu nota (aqui: www.aargs.com.br/nota-de-repudio) repudiando meu comentário e ressaltando a relevância dessa profissão que, de fato, não tem nada de obsoleta. Longe disso: reconheço, sem qualquer problema em sublinhar meu erro, que a arquivologia é uma atividade que se renova, se digitaliza e incorpora a tecnologia com significativa velocidade.
Além de pedir minhas sinceras desculpas aos arquivistas, quero registrar que este é um importante aprendizado na minha recente experiência como comunicador de TV: fazer comentários ao vivo tem dessas armadilhas, e eu – como profissional comprometido com a informação e com a verdade – preciso aprender a escapar delas.
Na quarta-feira, minha intenção, no calor do momento, foi encontrar uma profissão que, em uma sociedade cada vez mais digital, ainda se mantivesse muito presa ao papel. Me veio à cabeça o estereótipo (e estereótipos são sempre construções rasas) daquele arquivista antigo, de décadas atrás. Fui injusto, portanto, com inúmeros profissionais que se empenham para fazer a gestão documental em todas as plataformas – muitos deles, inclusive, diretamente envolvidos no processo de digitalização dos locais onde trabalham.
Me estendo nessa retratação porque sei o quanto nós mesmos, jornalistas, lutamos para nos reinventar diariamente e não sermos atropelados pelas novas tecnologias. Os arquivistas também enfrentam o desafio diário de absorver essa capacidade de adaptação, e não há dúvida de que estão obtendo êxito.
Aliás, neste momento em que grupos cada vez mais organizados parecem ignorar a História, repetindo ou negando barbaridades do passado que tanto nos envergonham, contar com profissionais dedicados a manter sempre a memória acesa é fundamental para uma sociedade civilizada.
Mais uma vez, peço desculpas aos arquivistas.
Paulo Germano